O setor da construção é um dos maiores responsáveis pelas emissões de carbono e pelo uso de recursos naturais. Mas também é um dos que mais influencia diretamente a vida das pessoas; afinal, trata-se do espaço onde moramos, trabalhamos, nos deslocamos e convivemos. Por isso, discutir sustentabilidade e justiça climática dentro da construção civil é mais do que uma questão ambiental: é uma oportunidade de enfrentar desigualdades históricas e promover cidades mais inclusivas e resilientes.
1. O desafio da justiça climática
As mudanças climáticas não afetam todas as pessoas da mesma forma. Comunidades em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes já vivem em habitações precárias e áreas de risco, são as mais impactadas por enchentes, ilhas de calor e crises de abastecimento. A justiça climática propõe que a transição para uma economia de baixo carbono seja também uma transição socialmente justa, garantindo acesso equitativo a habitação digna, infraestrutura verde e qualidade urbana.
2. Habitação digna como direito e estratégia climática
Investir em habitação de qualidade para populações vulneráveis não é apenas uma agenda social, mas também uma medida climática. Casas mal construídas aumentam consumo de energia (com ventiladores, aquecedores, improvisos), ampliam riscos de saúde e intensificam a desigualdade. Projetos habitacionais sustentáveis podem incorporar:
- Eficiência energética e conforto térmico (ventilação cruzada, isolamento, materiais locais);
- Água e saneamento com sistemas descentralizados;
- Uso de energias renováveis em escala comunitária;
- Flexibilidade de uso para acompanhar as mudanças da vida familiar.
3. Acesso à cidade: mobilidade e inclusão social
Não basta construir casas, é preciso garantir acesso ao tecido urbano. A distância entre moradia e oportunidades de trabalho, educação e saúde é uma das maiores barreiras à equidade nas cidades brasileiras. O setor da construção pode atuar em:
- Requalificação de áreas centrais com habitação de interesse social;
- Projetos de mobilidade ativa (ciclovias, calçadas acessíveis, transporte coletivo sustentável);
- Planejamento urbano integrado, que evita a segregação socioespacial.
4. Infraestrutura verde para comunidades vulneráveis
Áreas com menos infraestrutura verde sofrem mais com enchentes e ondas de calor. A implantação de infraestrutura verde é uma solução que une sustentabilidade, saúde pública e inclusão social:
- Parques lineares e hortas urbanas comunitárias reduzem riscos de alagamento e geram lazer;
- Telhados e fachadas verdes em habitações coletivas melhoram o microclima;
- Árvores de sombra em vias públicas reduzem o estresse térmico;
- Captação de águas pluviais e jardins de chuva ajudam a evitar desastres e valorizam o território.
5. O papel do setor da construção
Empresas, incorporadoras, arquitetos e gestores públicos têm responsabilidade e poder de transformação. Isso passa por:
- Incorporar critérios ESG nos projetos desde a concepção;
- Priorizar certificações de sustentabilidade acessíveis também para habitação social;
- Fomentar parcerias público-privadas para investimentos em infraestrutura verde;
- Atuar em capacitação profissional para que comunidades participem da construção e manutenção dos espaços.
Conclusão
A sustentabilidade no setor da construção não pode ser vista apenas como eficiência energética ou redução de emissões. Ela precisa estar ligada à justiça climática, garantindo que os benefícios da transição sustentável alcancem também quem mais sofre com a crise ambiental. Habitação digna, acesso à cidade e infraestrutura verde não são apenas soluções técnicas, mas caminhos para reduzir desigualdades e construir cidades verdadeiramente resilientes e inclusivas.