“A construção civil é responsável por cerca de 40% das emissões de gases do efeito estufa no mundo.”
Tal informação pode não soar como novidade para muitos, mas com o crescimento da temática ESG nos diferentes setores da economia global, o setor da construção passou a ter um foco especial. Não apenas pelo alto impacto ambiental, mas também pela multiplicidade de stakeholders envolvidos nas fases de planejamento, execução e operação das edificações.
A complexidade de um projeto varia conforme sua escala e uso. Lidar com equipes multidisciplinares ao longo do ciclo de vida de um projeto não é tarefa simples, e é nesse aspecto que o gerenciamento de projetos desempenha papel fundamental.
Segundo o PMI (Project Management Institute), “o gerenciamento de projetos consiste no uso de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas específicas para fornecer algo de valor às pessoas.”
Chamo atenção para o trecho final: “fornecer algo de valor às pessoas”. Ora, se entendemos o desenvolvimento sustentável como algo de extremo valor — e uma necessidade urgente para a sociedade atual e futura — precisamos considerar a sustentabilidade como um pilar essencial do gerenciamento de projetos.
O triângulo tradicional e suas limitações
Até hoje, ao analisar o papel do gerenciamento de projetos, encontramos uma estrutura pouco flexível e desatualizada. Os materiais sobre o tema sempre destacam três pilares principais: Prazo, Custo e Qualidade — o famoso triângulo da gestão de projetos. Em algumas versões, as três pontas são Prazo, Custo e Escopo, com a qualidade como ponto central. Em nenhuma delas, porém, a sustentabilidade é mencionada. Por quê?
Quebrando mitos sobre sustentabilidade na gestão de projetos
Sustentabilidade e prazos
A sustentabilidade não compromete os prazos de um projeto. Quando integrada desde o início, o cronograma não precisa ser afetado. Melhorias propostas às equipes devem ser incorporadas durante o desenvolvimento, evitando revisões constantes e retrabalho.
Sustentabilidade e custos
Há uma percepção equivocada de que a sustentabilidade encarece os projetos. Muitas soluções não exigem investimento adicional, mas sim uma mudança de perspectiva.
- Alterar a rotação de uma edificação para reduzir a radiação solar na fachada.
- Ajustar o layout para favorecer iluminação e ventilação natural.
Mesmo quando há custos iniciais, é essencial avaliar o ROI (Retorno sobre o Investimento). Um sistema fotovoltaico, por exemplo, pode gerar economia significativa na conta de energia, trazendo retorno e lucro futuro. Por isso, não se deve desvincular CAPEX (custos de investimento) de OPEX (custos operacionais). Se não houver retorno, a solução não é economicamente viável — e, portanto, não é sustentável.
Sustentabilidade e qualidade
Sustentabilidade e qualidade são quase sinônimos. As certificações de green building apresentam estratégias baseadas nas melhores práticas da construção civil, sempre atualizadas para elevar o rigor e reduzir impactos socioambientais.
Sustentabilidade como quarto pilar
A integração da sustentabilidade nos projetos não deve ser vista como um complicador, mas como um quarto pilar que complementa os demais e agrega valor — tanto de mercado quanto para as pessoas.
Ao lado de Prazo, Custo e Qualidade, a Sustentabilidade redefine o gerenciamento de projetos, alinhando-o às necessidades urgentes da sociedade e às demandas das futuras gerações.